Encontrámo-nos num bar, chegou com o marido, o Jorge, uns calções e umas botas de pelo por dentro, um jeito intimidatório de vê lá o que é que perguntas à minha esposa que eu estou aqui para a defender, Ana Malhoa a falar dele como “o meu braço direito, esquerdo, perna esquerda, perna direita, tudo”. Às tantas, a propósito de umas fotos em que aparece nua na Internet, a boa da Ana começa a negar a pés juntos que alguma vez se tenha deixado fotografar nua. Duvidei e, perante a insistência, ouvia confessar: “mediante certas condições estaria disposta a despir-me para a Playboy”. E, pose armada, sorriso fabricado para a fotografia, ergueu os peitos e exclamou: “Quando a Índia nasceu fiquei com umas maminhas que pareciam dois berlindes” e, Mamalhoa, “depois da plástica voltei a ter umas esferas”. E abanou-as. Conto-lhe que um internauta escreveu que “a Ana Malhoa é a mulher mais bonita de Portugal, por quem dava tudo o que tenho de bom na vida para estar umas horas”. Ela, deleitada, não esconde o agrado, passa a língua pela alvura da dentadura, lança o mesmo sorriso. Vaidoso e fabricado. Um outro internauta, que assina Almeida, e que escreve “O corpo da Ana Malhoa põe-me louco, pagava tudo o que tenho para a levar para a cama”, faz com que a cantora se ria, alto e bom som, o marido sempre com cara de poucos amigos, a filhinha, a Índia, ainda mais tímida ao colo do papai, a Ana que dispara, toda sensual: “sabia que o meu grande sonho de criança era ser astronauta?”
sábado, 23 de fevereiro de 2008
sábado, 16 de fevereiro de 2008
Bizarrias
Incentivado pelo estigma de que com Paulo Furtado tudo pode acontecer em palco, fui a Coimbra ver os conterrâneos Wraygunn e o magnetismo, bizarria e sede de estranhamento do Tigerman. Desta vez nenhuma menina lhe mordeu os testículos, nem ele partiu a cabeça, nem jorrou sangue sem que percebesse. “Tinha uns óculos vermelhos e pensava que era suor”, contou-me há uns anos aqui em casa, num dia soalheiro em que dois americanos de uma certa ceita religiosa se aproximaram com a Bíblia na mão e acabaram com a guitarra a tiracolo, boquiabertos com a tatuagem que vislumbraram no braço de Furtado: “Straight to Hell”. “A confirmar-se a existência de um Céu e de um Inferno, que eu tenho certas dúvidas, pelos cânones da religião católica irei direitinho para o Inferno”, contou-nos sem o esboço de um sorriso.
Recordei uma outra noite coimbrã de Queima das Fitas em que os Tédio Boys entraram em palco nus e com as partes íntimas cobertas com um frango pronto a ir à fogueira, no corpo cicatrizes de escaramuças “numa Coimbra ingrata”, tempos em que a sua existência chegou a depender do recurso à violência. No palco, ele é outro, ganha uma força que não tem na vida real, franzino, distante, ali libertado num turbilhão de emoções e algum descontrolo que o faz trepar as estruturas dos palcos ou saltar em cima das colunas.
Terminada a actuação, Furtado esvazia-se por dentro e não tem mais para dar.
Recordei uma outra noite coimbrã de Queima das Fitas em que os Tédio Boys entraram em palco nus e com as partes íntimas cobertas com um frango pronto a ir à fogueira, no corpo cicatrizes de escaramuças “numa Coimbra ingrata”, tempos em que a sua existência chegou a depender do recurso à violência. No palco, ele é outro, ganha uma força que não tem na vida real, franzino, distante, ali libertado num turbilhão de emoções e algum descontrolo que o faz trepar as estruturas dos palcos ou saltar em cima das colunas.
Terminada a actuação, Furtado esvazia-se por dentro e não tem mais para dar.
sábado, 9 de fevereiro de 2008
sábado, 2 de fevereiro de 2008
Saulzinho, o 'alien'
Fiquei amigo do guitarrista e violinista dos James e fui descobrindo um Saulzinho franzino e irrequieto, que se sentia um 'alien' em Portugal. Contou-me que a sua vida ficou marcada pelo facto dos pais terem sido professores de crianças deficientes, por ter habitado "em estranhos edifícios com loucos e convivido com um irmão adoptivo preto e outro com problemas mentais. Íamos para a escola com roupas coloridas, a cheirar a bosta e com o cabelo, que nunca tinha sido cortado, a cair até ao rabo". Já tocava mas só pensava em desistir "porque queria ser jogador de futebol e não um violinista com ar de homosexual". Disse-me que "era o melhor músico, o capitão da equipa, o que ganhava as corridas de atletismo e o que comia as irmãs deles". Tinha 16 anos quando o pai "desapareceu com outra mulher", sobreviveu a tocar violino na rua e a morar com um grupo de prostitutas espanholas. De repente, tudo mudou. Foi convidado para os James, gravou "Sit Down", trocou a bicicleta pela limusina, atingiu os tops de todo o Mundo. Uma vez disse-me que não foi por ter casado com a bela da Ana e ficado a morar em Portugal que os James acabaram, mas porque "andávamos todos paranóicos com uma carta de uma japonesa que tinha uma foto com as capas dos nossos discos e uma faca ensanguentada por cima. Dizia que, se não lhe déssemos atenção, se suicidaria".
Subscrever:
Mensagens (Atom)