O tamanho da bondade
Desde que soube que Gilberto Gil vem em Abril aos Coliseus que ando com vontade de lhe ligar. O Caetano Veloso um dia destes disse-me que “acho tonto de mais que o ministro da Cultura do Brasil ande a criar forças contraditórias dentro da própria comunidade dos criadores, artistas e intelectuais” – acusando-o de “falta de cuidado no que se refere à reprodução do que ele próprio também cria” – e fiquei a fim de o abordar sobre o assunto. Desde o último Festival do Sudoeste, quando o vi cansado e apontei o seu espectáculo como sendo “decepcionante”, que não voltamos a falar. Ele sabe que o considero um dos maiores símbolos da música brasileira, um dos que têm a veia de futurólogo mais saliente, todo voltado para sentidos e em contemplação quase permanente, mas não deixei que a admiração deturpasse o facto. Escrevi que um ministro, mesmo sendo brasileiro e estando em palco, não pode tocar o plural pelo singular nem lançar entre músicas “uus” tipo macaco. Sei que ele faz a apologia da bondade e que tem por princípio perdoar o que considera ofensa mas penso que está sentido por eu ter sido tão frontal face ao que analisei naquela noite alentejana. Como também deve estar sentido com o que nos disse “seu Caetano”. Mas quando sair de palco, todo de branco, e me voltar a ver com certeza que me dará um abraço do tamanho da sua bondade.
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