Faz uns quinze anos que me encontrei a primeira vez com o Vitorino. Entrei nos camarins do Europarque, em Santa Maria da Feira, com ele em frente ao espelho a aprumar a boina e a cofiar o bigode. Olhou na minha direcção e começou a insultar-me. Perguntou se eu era do jornal “Público”, não, então porquê, “porque se fosse expulsava-o já daqui”. Calma amigo, então o que é que se passa para estar tão desaforado, “escreveram umas coisas sobre mim no “Público” que eu não admito”. Ok, mas o que é que eu tenho a ver com isso, “não quero saber”, gritou-me aos ouvidos. Dei meia volta e sem me despedir ia para abandonar a sala, “não, não é caso para isso, não vá embora que eu dou-lhe a entrevista”. Fiquei com uma péssima opinião do cantor do Redondo e até me apanhei a pensar nele como “um quadrado” mas parece que me enganei.Um dia destes entrevistei-o e lembrei-lhe esse episódio: “Pagou o justo pelo pecador”, justificou-se. “Havia um jornalista, o Fernando Magalhães - que se suicidou - que, por sistema, tratava a gente mal. Até que a gente se cansou e de maneira que, quando ele aparecia nos concertos, não o deixávamos entrar. Coitado. Fartei-me de o expulsar”. Subimos juntos a ladeira da Rua da Imprensa Nacional, entrou na sua Renault 4 L e ao vê-lo partir não resisti a pensar que o Vitorino pode ter mudado muito mas mantém um toque revolucionário, fiel a Che Guevara, “a chamar os bois pelos nomes”.
sábado, 8 de março de 2008
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