Fafá de Belém beijou-me, exuberante, por entre sonoras gargalhadas, humor estrelado e a mesma imensidão de simpatia. Com fartos seios desviados do sutien, recebeu-me como sempre: “Meu querido Zé, que bom ver-te, ó pá”. Naquele dia estava com a pele mais aveludada e o génio todo lá, mas a memória dos seus ascendentes teimava em não se afastar. Falou-me da avó de Castelo de Paiva – que “representou a força da mulher, a independência e o matriarcado antimachista” – e contou-me que quando o pai faleceu entrou de rompante na sala do velório, pôs Frank Sinatra a cantar nas alturas e deixou toda a gente indignada. “As beatas sumiram na hora”, riu alto. No dia seguinte encontrei-a mais abatida. Confessou-me que estava “morrendo de saudades” do pai e que desde que ele a tinha deixado se sentia perdida. ‘Seu Fifi’ era para ela a expressão máxima do amor na Terra, dele herdou a sensibilidade que tanto a faz estremecer de dor como rir de prazer. Quase de seguida, com emoções em catadupa, entre mais um ataque de saudades e pranto, deixei que encostasse o peito ao meu, como se eu fosse o irmão que desejava ter tido, o que me fez pensar que é mais fácil esquecer as pessoas com quem rimos do que aquelas com quem chorámos. Acho que é por essas lágrimas que tenho tanto carinho por ela, guardando religiosamente uma fotografia em que estamos abraçados e com um sorriso do tamanho da felicidade possível.
sábado, 12 de abril de 2008
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